
Falando do Brasil
Uma brincadeira de mau gosto colocou Robin Williams, ator americano, numa situação nada simpática com o Brasil e os brasileiros. Ele, que só tentava ser engraçado (como faz freqüentemente como se fosse uma obrigação visceral), disse mais ou menos o seguinte sobre a escolha do Brasil como sede olímpica em detrimento dos EUA num “talk show”: Os EUA levaram Oprah e Michelle Obama para apoiar a campanha, o Brasil levou 50 “strippers” e meio quilo de pó, injusto não? Sinceramente não acredito que ele quis nos ofender, mas o fez (com certa graça é claro). Pois reforçou dois estereótipos tristes sobre nosso país: que somos um paraíso violento das drogas, e que todas as mulheres brasileiras são, basicamente, prostitutas. Bem, claro que temos prostituição e drogas no nosso país como quase o mundo todo, mas isso não quer dizer que o Brasil seja só isso. E, eu mesma já tive a triste oportunidade de sentir-me um bocado ofendida com a maneira como turistas estrangeiros se comportam, olhando-nos como carne à venda.
Infelizmente não podemos dizer que não temos nenhuma culpa nesta questão, pois que o próprio Brasil vende esta imagem de país de festas intermináveis e mulheres baratas e disponíveis. Longe de ser moralista e pudica; o que mais me entristece neste caso é saber que a prostituição e o tráfico são um sinal claro das condições precárias com as quais muitos vivem no meu país. Sem acesso à educação, habitação digna e saúde, (material básico para que qualquer ser humano tenha condições de se desenvolver, ter sonhos e sentir-se um cidadão), sobra muito pouco no horizonte de muita gente. A prostituição, o tráfico e o patético sonho de um príncipe branco americano ou europeu são, muitas vezes, a única saída que meninas e meninos vêem. Agora, criticar o Sr. Williams é fácil e talvez até tenhamos certa razão, já que ele foi um tanto indelicado. Entretanto, não consigo deixar de pensar que ao fazermos isto estamos, ao mesmo tempo, fechando nossos olhos para o problema real. É como criticarmos os mendigos que dormem em nossas ruas por estarem ali. Incomodar-nos com as pessoas que nos pedem dinheiro nos semáforos diariamente, e espantar-nos com os meninos de rua completamente drogados que perambulam noite e dia pelas ruas a assaltar-nos sempre que é possível.
Pergunto-me porque não nos indignamos, com a mesma veemência, com a distribuição tão injusta de renda aqui, com a situação precária de todos os serviços públicos em nosso país (onde temos uma das cargas de impostos mais altas do mundo) ou com as notícias diárias de desvios do dinheiro público? Sinto-me sinceramente mal por não fazer nada para mudar esta situação, pois tive todas as condições para ter a boa vida de hoje: casa, carinho, educação em colégios particulares e a oportunidade de estudar numa das melhores Universidades pública do meu país. Não é minha obrigação lutar por uma sociedade melhor para todos nós? Não deveria buscar um país igual e justo para todos que vivem aqui? Não estamos todos nós nos ofendendo com as pessoas erradas?
Estereotipar pessoas é um absurdo, fazê-lo com grupos ou com uma nação é ainda pior. Contudo, nós brasileiros precisamos lutar para que a situação de nosso país mude, e não porque nos ofendemos com o que dizem sobre nós. Temos que fazê-lo para que não tenhamos mais que nos trancar em condomínios com medo da cidade lá fora, para que não vejamos gente morrendo na fila de hospitais todos os dias, ou para não vermos mais famílias inteiras na rua sem onde morar. Pagamos caro por nossos impostos e, por tanto, é obrigação dos governos (municipal, estadual e federal) proverem as condições necessárias para que todos possam ser chamados de cidadãos e, com algumas opções, escolherem seus caminhos claramente. Ou entendemos que nossa terra é de todos ou, cada vez mais, ela será a terra de ninguém.
Beijos a todos.
Mari
Uma brincadeira de mau gosto colocou Robin Williams, ator americano, numa situação nada simpática com o Brasil e os brasileiros. Ele, que só tentava ser engraçado (como faz freqüentemente como se fosse uma obrigação visceral), disse mais ou menos o seguinte sobre a escolha do Brasil como sede olímpica em detrimento dos EUA num “talk show”: Os EUA levaram Oprah e Michelle Obama para apoiar a campanha, o Brasil levou 50 “strippers” e meio quilo de pó, injusto não? Sinceramente não acredito que ele quis nos ofender, mas o fez (com certa graça é claro). Pois reforçou dois estereótipos tristes sobre nosso país: que somos um paraíso violento das drogas, e que todas as mulheres brasileiras são, basicamente, prostitutas. Bem, claro que temos prostituição e drogas no nosso país como quase o mundo todo, mas isso não quer dizer que o Brasil seja só isso. E, eu mesma já tive a triste oportunidade de sentir-me um bocado ofendida com a maneira como turistas estrangeiros se comportam, olhando-nos como carne à venda.
Infelizmente não podemos dizer que não temos nenhuma culpa nesta questão, pois que o próprio Brasil vende esta imagem de país de festas intermináveis e mulheres baratas e disponíveis. Longe de ser moralista e pudica; o que mais me entristece neste caso é saber que a prostituição e o tráfico são um sinal claro das condições precárias com as quais muitos vivem no meu país. Sem acesso à educação, habitação digna e saúde, (material básico para que qualquer ser humano tenha condições de se desenvolver, ter sonhos e sentir-se um cidadão), sobra muito pouco no horizonte de muita gente. A prostituição, o tráfico e o patético sonho de um príncipe branco americano ou europeu são, muitas vezes, a única saída que meninas e meninos vêem. Agora, criticar o Sr. Williams é fácil e talvez até tenhamos certa razão, já que ele foi um tanto indelicado. Entretanto, não consigo deixar de pensar que ao fazermos isto estamos, ao mesmo tempo, fechando nossos olhos para o problema real. É como criticarmos os mendigos que dormem em nossas ruas por estarem ali. Incomodar-nos com as pessoas que nos pedem dinheiro nos semáforos diariamente, e espantar-nos com os meninos de rua completamente drogados que perambulam noite e dia pelas ruas a assaltar-nos sempre que é possível.
Pergunto-me porque não nos indignamos, com a mesma veemência, com a distribuição tão injusta de renda aqui, com a situação precária de todos os serviços públicos em nosso país (onde temos uma das cargas de impostos mais altas do mundo) ou com as notícias diárias de desvios do dinheiro público? Sinto-me sinceramente mal por não fazer nada para mudar esta situação, pois tive todas as condições para ter a boa vida de hoje: casa, carinho, educação em colégios particulares e a oportunidade de estudar numa das melhores Universidades pública do meu país. Não é minha obrigação lutar por uma sociedade melhor para todos nós? Não deveria buscar um país igual e justo para todos que vivem aqui? Não estamos todos nós nos ofendendo com as pessoas erradas?
Estereotipar pessoas é um absurdo, fazê-lo com grupos ou com uma nação é ainda pior. Contudo, nós brasileiros precisamos lutar para que a situação de nosso país mude, e não porque nos ofendemos com o que dizem sobre nós. Temos que fazê-lo para que não tenhamos mais que nos trancar em condomínios com medo da cidade lá fora, para que não vejamos gente morrendo na fila de hospitais todos os dias, ou para não vermos mais famílias inteiras na rua sem onde morar. Pagamos caro por nossos impostos e, por tanto, é obrigação dos governos (municipal, estadual e federal) proverem as condições necessárias para que todos possam ser chamados de cidadãos e, com algumas opções, escolherem seus caminhos claramente. Ou entendemos que nossa terra é de todos ou, cada vez mais, ela será a terra de ninguém.
Beijos a todos.
Mari
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